top of page
Buscar

A vida não é útil - Fim da escala 6x1

Atualizado: 16 de nov. de 2024

O vereador Rick Azevedo (PSOL), eleito no Rio de Janeiro, e a deputada federal Erika Hilton criaram uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que já foi protocolada e, se aprovada, pode mudar por completo a vida de milhões de pessoas para melhor. Essa proposta rapidamente ganhou apoio popular, pois grande parte da população no Brasil vem sentindo altos níveis de estresse, esgotamento físico e mental associados ao trabalho. Segundo dados da International Stress Management Association (ISMA-BR), aproximadamente 28 milhões de brasileiros apresentam um quadro compatível com o que a categoria psiquiátrica nomeia como Síndrome de Burnout. Quem só descansa um dia na semana, após ter trabalhado em todos os outros seis, está muito mais suscetível a experienciar o fenômeno da sobrecarga e do cansaço crônico, concorda?


Podemos falar sobre o quanto esse modelo é desumano e viola direitos básicos, uma vez que os patrões restringem ou até eliminam as possibilidades de o trabalhador ter momentos destinados ao ócio, lazer, realização de projetos pessoais (como qualificações e estudos), práticas de atividades físicas, tempo de qualidade com a família e amigos, entre tantas outras coisas importantes que somente o ganho de tempo poderia proporcionar — não o trabalho.


Claro, não deixemos de fazer os devidos recortes. Como conciliam todas as demandas as mulheres que trabalham em setores como o de serviços e do comércio e que são mães? E as mães solo? A conta não fecha. Vale dizer que quando uma pessoa adoece, e ela é a referência de sua família, é comum que os demais membros também sintam os impactos desse adoecimento em si próprios. Esse tipo de sofrimento não diz respeito a indivíduos isolados; pertence a todos nós de forma coletiva, até mesmo quem não trabalha em condições tão precárias quanto as que estão sendo descritas aqui. O que quero dizer é que a manutenção de uma sociedade fundamentada nas desigualdades sociais e na exploração, sobretudo através dos mecanismos que tornam alguns grupos mais vulneráveis, é motivo para que, mais cedo ou mais tarde, todas as pessoas sejam dilaceradas e consumidas por esse mesmo sistema. Não existe saúde no capitalismo, porque, como disse Krenak, "a vida não é útil" e nós vamos nos contagiando por essa cólera.


Estamos sendo levados a normalizar o aumento da demanda por produtividade e, por conseguinte, é comum sentirmos culpa quando não estamos produzindo; ou ainda, condicionarmos nosso valor enquanto sujeitos somente aos momentos em que estamos sendo úteis e eficientes. Dessa forma, passamos a nos queixar de uma fadiga sem fim, sem conseguir fazer nada para amenizá-la ou fazê-la desaparecer por completo. Tomados pela insustentabilidade da situação, atingimos o nosso próprio limite. Talvez você saiba que chegar no extremo do que se pode aguentar tem consequências relevantes, às vezes drásticas.


A discussão fomentada com essa PEC representa um ímpeto para a valorização da vida e para o reconhecimento de que trabalhadores não são máquinas. O direito ao descanso pleno e à desconexão é essencial para uma sociedade que deseja se transformar e conhecer formas de viver mais dignas e sustentáveis. A reflexão sobre o papel do Estado em regular essas condições aponta para o tipo de futuro que queremos construir, onde o trabalho não seja uma fonte de sofrimento, mas uma atividade que viabilize a realização de sentidos para a existência.


Reduzir a carga horária semanal para um modelo de 5 dias de trabalho e 2 de descanso (5x2) traz benefícios que envolvem uma relação mais autêntica com o trabalho, pois contemplar outras prioridades na vida pode abrir espaço para o surgimento de criatividade, satisfação, atenção e dedicação à atividade laboral, entre outros aspectos. Além disso, essa escala tem o potencial de gerar mais empregos.


No momento em que escrevo, já são 134 assinaturas de deputados federais, e outras 37 são necessárias para que a PEC comece a tramitar. As mais de 2 milhões de assinaturas na petição pública demonstram a força popular da proposta, mas é preciso continuar falando sobre esse assunto para garantir o restante das assinaturas e, posteriormente, a aprovação no Senado.


Obrigada por lerem até aqui e até o próximo post!






 
 
 

Comentários


bottom of page