Marginalidade e desvio criativo: Estética da re-existência
- marinasqcastro
- 5 de ago.
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Ontem, assistindo à aula inaugural da turma de especialização em Fenomenologia-Decolonial e Clínica Ampliada do NUCAFE, a fala do professor Alexandre Cabral (UERJ) me remeteu imediatamente à bandeira do Hélio Oiticica, com a frase “Seja marginal, seja herói."
Nas perspectivas decoloniais e contracoloniais, o lugar do marginalizado e do invisibilizado é subvertido pelos corpos e pelas identidades desviantes. Estes corpos dissidentes, racializados, periféricos, trans, gordos, quando recusam a domesticação e a normatividade que o europeu tenta impor-lhes, estão produzindo a estética da reexistência. O desvio se torna estratégico pelo seu potencial criativo, de provocar movimento, de reconfigurar a vida.
Tais corpos pretendem o devir, o vir a ser de suas possibilidades. O projeto de autenticidade, para se realizar, passa antes pela necessidade de sobrevivência às ações violentas que visam a aniquilação. Ainda assim, a luta se dá pela transformação da própria lógica excludente e pelos atos antropofágicos da cultura* – não pela perpetuação do ódio.
Ao afirmar: seja herói, Oiticica propõe então a denúncia, uma virada que assume a margem como potência criativa. No espaço onde as molduras coloniais determinaram historicamente quem é humano ou o que é saudável, normal, produtivo, correto e belo, colocamos a crítica, a negação, a desobediência. Reiventamos a linguagem, os afetos, os corpos, os territórios.
O pensamento decolonial vibra com a amorosidade e a beleza de outras formas de ser e viver. A oralidade, o corpo, as ruas, as favelas, o hip-hop, a capoeira, o samba, os terreiros de Candomblé e Umbanda, as aldeias indígenas, as comunidades quilombolas, as crianças, os velhos, a natureza e os seus fenômenos. Tudo diz e ensina sobre o que há de revolucionário. São as culturas populares, as práticas comunitárias, os saberes ancestrais e as clínicas que se deixam atravessar pelos mais diversos seres, pois, sem nenhuma ressalva, todos pertencem ao mundo.
Espero que tenham gostado desse texto. Até a próxima!
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